terça-feira, 2 de novembro de 2010

Noite fria



Este é mais um micro conto de fantasia/terror de Thiago Garcez Moreno.

Um menino de rua deitou em sua cama de jornais. Chovia e ventava muito naquela noite de inverno. Ele adormeceu tremendo e pedindo a Deus, ou qualquer outro ser, o ajudar naquele momento. Minutos depois sentiu sua pele muito fria e em todo o corpo sentiu o peso de algo estranho. Sentiu calor. Ele abriu os olhos e não enxergou nada, tentou gritar, mas havia terra por todo o seu corpo e ela acabou entrando em sua boca.
O garoto forçou os braços e conseguiu furar a terra, bateu em algo sólido, forçou, sua mão transpassou a madeira. Do lado de fora sua mão congelava. Ele forçou a outra mão, e tudo aconteceu como com a primeira. Ele pegou impulso e com força conseguiu se levantar. Seu corpo estava fraco e suas roupas estavam mais rasgadas do que quando ele foi se deitar “sonho esquisito esse”, ele pensou.
O menino de rua olhou a sua volta e percebeu que estava em um cemitério. Ele sentia o frio ali. Olhou em seus braços e viu que a pele tocava o osso de tão magro que estava. Ele não ligou, sempre fora assim. Começou a caminhar e notou que capengava, “deve ser pela falta de comida”, deduziu. Se ele olhasse para trás, veria seu nome na lápide, mas isso não faria muita diferença, James nunca aprendera a ler. Ao seu redor todos os túmulos estavam revirados.
Ele caminhou sem saber aonde ia, pensou ouvir um murmurinho mais a frente. Continuou andando até achar uma cripta aberta. "Quando vou acordar desse pesadelo? Que lugar mais estranho, será que a gangue do Paul armou isso?", ele pensou sem saber o que estava acontecendo".
James entrou na cripta. Muitas pessoas estavam lá, muitas delas deformadas, outras apenas cortes ou algum ferimento e outras ainda, sem nada aparente.
-Pensei que você não viria a essa reunião. - Disse um homem muito velho - Já esta morto há três anos e essa é a primeira vez que comparece. - James arregalou os olhos. Aquela noite foi realmente muito fria.

2 comentários:

  1. Este começo me lembrou a versão traduzida e adaptada por Monteiro Lobato de "A menina dos fósforos", de Hans Christian Andersen. Já do meio para frente me soou - e muito bem por sinal - os contos do folclore escandinavo, além, claro, de "Estranho mundo de Jack". Achei este o melhor dos micro-contos.

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  2. Realmente, um excelente micro-conto, sombrio, onírico, realista,acho que pode até ser tido como crítico, mostrando a realidade dessas crianças abandondas nas ruas pela sociedade, governos e por aí vai, acho até que o leitor pode se sentir como o menino tamanha é a realidade do texto. Parabéns!

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